MEU BAIRRO, MEU QUILOMBO

Quilombo de Ivaporunduva e Jardim Paraná: os alunos aprenderam sobre as similaridades         entre os lugares.








Quando caminho pelas ruas do Jd. Paraná, Bairro da Brasilândia - São Paulo, onde a EMEF Senador Teotônio Vilela está localizada, encontro nuances dos países africanos expressas nos olhares das crianças, nos jovens com roupas coloridas e gingado próprio - ávidos por um trabalho digno – e na face dos mais velhos suas histórias de vida, luta e fé. São quase todos negros e em certos indivíduos os traços africanos são tão evidentes, que facilmente um etnólogo identificaria o grupo étnico a que seus antepassados pertenciam.

Essa herança genética vem com os povos africanos, atravessando gerações desde o século XVI e tem suas origens mais recentes nos *Quilombos. Traçar um paralelo entre comunidades quilombolas e os bairros mais afastados dos centros urbanos é muito fácil, basta conhecer a história recente da formação da cidade de São Paulo, para entender como essas comunidades foram e são formadas. Áreas centrais como Braz, Mooca, Bela Vista, Bexiga, Jabaquara etc., que até o início do século XX, eram redutos de negros, inclusive com formação de Quilombos: o Saracura, no bairro do Bexiga, e o Jabaquara (próximo a estação de metrô, que leva o mesmo nome).
Na abertura da imigração européia, forçados a renunciarem seus espaços, os negros foram obrigados a atravessar o rio Tietê, o que resultou na formação dos bairros de Casa Verde, Peruche, Limão, Nossa Senhora do Ó entre outros.
Comunidades distantes e recém-formadas como Jd. Damasceno, Vista Alegre e o caçula Jd. Paraná têm em sua formação, guardadas as proporções da realidade atual, os mesmos moldes de formação de quilombo, com um diferencial: são compostos, quase que na sua totalidade por migrantes nordestinos, que vêm para São Paulo e encontram nos bairros mais afastados, a única possibilidade do sonho da casa própria. São homens e mulheres que trabalham com afinco, para proporcionar o bem-estar às suas famílias, criando os seus filhos com simplicidade e dignidade.
Analisando o cenário acima descrito, resolvi ensinar Inglês a partir da história de vida dos alunos, revelando a identidade coletiva da comunidade, ao exibir fotos dos alunos e seus familiares nas salas de aula, legendadas com a Língua Inglesa, na exposição intitulada “Meu Bairro, Meu Quilombo”, e propor aos alunos a produção de um livro biográfico das famílias. Acredito que a forma mais eficaz e verdadeira de transmitir conhecimento, se concretiza na revelação da identidade e do aconchego familiar.
Pretendi, desta forma, utilizar como ferramenta da aprendizagem a curiosidade, despertando a comunidade escolar, principalmente aos alunos do Ciclo I o desejo de entender e conhecer uma nova língua.

Este projeto está publicado no "Caderno de Orientações Curriculares -  Expectativas de Aprendizagens para a Educação Étnico-Racial - Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio"

As fotos utilizadas neste projeto são de Eufrate Almeida (http://www.eufrate.blogspot.com/)